A Entrevista Homeopática Qualquer pessoa vai se admirar, se alguma vez consultar um médico homeopata, pela quantidade de perguntas que ele lhe faz sem que aparentemente tenham nenhuma relação com a sua doença. Ele irá lhes perguntar que tipo de comida gosta de comer, qual é a sua postura durante o sono, se transpira muito, a sua natureza ou maneira de ser, quais são os seus sonhos, etc. O foco do médico homeopata incide sobre a compreensão da constituição de cada paciente no seu total e determina o que o distingue das outras pessoas, ou o que faz dele uma pessoa individual. Cada um de nós difere dos outros seres humanos à nossa volta não só pelo nosso aspecto ou maneira de falar mas também pela maneira de pensarmos e sentirmos, da maneira que reagimos, da maneira que vemos o mundo à nossa volta, da nossa natureza e temperamento, das comidas que gostamos de comer e também do tipo de doenças de que sofremos. Se existir uma epidemia, por exemplo de influenza ou conjuntivite, algumas pessoas, não todas, serão contaminadas com a infecção. Porque é que isto acontece? Cada um de nós tem a suas próprias tendencias perante as doenças. Um rapaz de 10 ou 11 anos adoece com febre e arrepios. A sua temperatura é do tipo intermitente subindo a cerca de 39,5 graus Celsius desde há cerca de 2 dias até hoje e desde que os primeiros sintomas apareceram ele começou a manifestar medo do escuro e a agarrar-se fortemente a sua mãe. O seu exame de sangue mostrou-se positivo para o parasita da Malária. Ele recebeu o remédio homeopatico Stramonium e recuperou no prazo de 2 dias. Dois dias depois o seu irmão mais novo, de 8 anos de idade, apareceu igualmente com cerca de 39,5 graus Celsius e o seu exame de sangue mostrava igualmente infecção pelo parasita da Malária. Ele não tinha arrepios como o irmão e a sua temperatura mantinha-se constante nos 39,5 graus Celsius. O pequeno rapazinho mantinha-se apático e em estado de grande prostração, apenas sendo capaz de levantar levemente a cabeça para responder às nossas perguntas. Não tinha absolutamente nenhum apetite e recusava qualquer tipo de comida que lhe fosse oferecida. Queria ser abanado constantemente e durante a febre alta tinha entrado em delirio imaginando que os armários caíam sobre ele. Foi-lhe dado Carbo Veg. e recuperou bem. O que é que se passa então para que, apesar de ambos terem o mesmo tipo de infecção, as “pinturas” sejam completamente diferentes? Cada um de nós tem a sua própria reactividade individual e desta maneira os sintomas e caracteristicas da infecção diferem em cada caso. Recentemente um ciclone em Orissa devastou as vidas de dezenas de milhares de pessoas. A TV mostrou imagens da miséria das vitimas: pessoas sem casa, com fome, perdidos, separados dos vizinhos e dos entes queridos. Isto foi uma tragédia humana em larga escala que provocou uma grande variedade de reacções da parte de todos nós.  Aqueles que foram mais simpáticos com esta situação, partiram para um acto de colectar fundos e viveres para as vitimas. Outros ofereceram-se voluntários e foram para Orissa para ajudar directamente as vítimas. Por outro lado outros mantiveram-se quietos e indiferentes porque acontecimentos como este acontecem frequentemente. Os nossos politicos aproveitam a oportunidade para se insultarem mutuamente atirando as culpas para cima dos governantes, etc. Muitos de nós admiramo-nos de isto acontecer, mas eles, tal como nós, também são humanos. Desta maneira pessoas diferentes sentem diferentemente e reagem diferentemente mesmo em relação às tragédias humanas. Gemeos identicos que se geraram a partir da mesma celula, podem apesar de tudo, ter também naturezas diferentes. Existe uma quantidade imensa de diferenças entre cada individuo e o médico homeopata, tenta identificar essas diferenças entre cada pessoa, desta maneira individualizando o caso de cada paciente. O Homem pode ser considerado como sendo uma amalgama de 2 partes essenciais: A espiritual e a material. As duas não podem ser separadas, mas por motivos de conveniencia vamos tentar entender cada uma elas separadamente. A parte material consiste no corpo, seus diversos sistemas organicos, suas glandulas, seus tecidos e fluidos e seu cerebro. O espirito é a parte não material que dá vida ao corpo, que governa e controla as suas funções. Ele está em toda e qualquer parte do corpo. Sem o espirito o corpo é morto. O corpo pode ser comparado com um automóvel, porque ele trabalha, mas temos que o encher de combustivel. O combustivel é transformado em energia que então impulsiona o carro. O espirito é também a energia que impulsiona a vida e que conduz e regula o funcionamento do corpo. Em acréscimo o espirito é também responsável pela nossa natureza, temperamento e nossos valores morais. É a isto que nós chamamos a alma em linguagem comum ou “aatma” em filosofia hindu. É esta alma que nos dá e define a nossa “individualidade”. Homeopatia reconhece ambas, a parte material e a parte espiritual do ser humano e é nisto que se distingue da chamada medicina convencional. O médico homeopata, olha a doença como um disturbio do espirito ou da Força Vital. Desta forma ele olhará igualmente para os problemas do corpo e para os do espirito ou o nosso temperamento ou natureza, os nossos sentimentos e reacções, os nossos sonhos, etc. Assim, em homeopatia, cada paciente é olhado como uma soma dos seus sintomas totais e dos seus mais reconditos sentimentos. Porque o que se pretende é conhecer e entender cada pessoa como um ser individual, o homeopata procura os pormenores que mais individualizam as pessoas. Esses pormenores encontram-se no mais recondito dos nossos sentimentos e podem ser identificados pela vida de uma pessoa e também a partir dos seus sonhos, medos, hábitos de vida, gostos, etc. Essas caracteristicas acabam por ser tão ou mais importantes do que os sintomas físicos do paciente. Resumidamente o médico Homeopata requer o seguinte para um bom entendimento e completa história do paciente: 1.      A descrição exacta dos problemas físicos no passado e no presente. Como é que tudo começou? Foi repentinamente ou gradual? Qual é a sensação exacta? Por exemplo: existe dor, sensação de queimadura, penetrante, latejante, repuxante, etc. O que é que melhora ou piora? Há algum momento do dia que as queixas aumentem de intensidade? Ou então que diminuam de intensidade? Que tipos de incidentes se passaram no momento que o    problema se manifestou? Como é que se sente com o seu problema? 2.      Sintomas Gerais Que comidas e bebidas você gosta? Costuma ter muita ou pouca sede? Costuma suar muito ou pouco? Em que lugares? Como é o seu sono? Em que posição costuma dormir? Acerca dos seus hábitos de urinar e defecar. As funções menstruais? Qual o lado do corpo que costuma ser mais afectado? A que tipo de problemas costuma ser mais susceptivel? Alergias, obesidade... 3.      Sintomas Mentais A sua natureza Incidencias que o afectaram e tenham tido um impacto especial em você. Esses são muito importantes para o Médico Homeopata, especialmente o que a pessoa sente e como reage perante os incidentes. O remedio homeopatico fica claro a partir desses sintomas ou caracteristicas pessoais. Sonhos: têem igualmente imenso valor dado que eles revelam os mais profundos sentimentos da pessoa. Interesses e hobies. Os sentimentos mais profundos, esperanças e desejos, desapontamentos, impulsos, pensamentos indesejaveis. Uma vez que o médico homeopata consiga uma “pintura” completa da pessoa como um ser individual que é, ele tenta encontrar um remédio com uma “pintura” similar existente nos livros de Matéria Médica Homeopatica. Os remédios homeopaticos são descritos detalhadamente nos livros; cada remédio é descrito como sendo um individual. O homeopata estudou esses remedios e tenta encontrar um que seja igual ou semelhante ao paciente nos sintomas físicos e na sua constituição mental. É como que tentar encontrar a chave para uma fechadura. Qualquer fechadura, como se sabe, pode unicamente ser aberta com a sua própria chave. Da mesma forma cada paciente requere um remédio cuja descrição coincida com a sua. Existem cerca de três mil remédios homeopaticos descritos nos diversos livros de Matéria Médica Homeopatica e cada remédio é um aglomerado de diversos sintomas. Algumas vezes um simples remédio pode ter mais de mil sintomas. É portanto impossivel para qualquer pessoa lembrar-se de cada remédio em todos os seus pormenores e muitas vezes o homeopata pode não estar familiarizado com determinado quadro de sintomas que o paciente apresente. Em tais casos ele usa frequentemente um índice de sintomas para procurar sintomas específicos: Este índice é conhecido como Repertorio. O Repertorio está agora também disponivel sob a forma de software de computador. A prescrição homeopática depende largamente da forma mais ou menos detalhada da “história” fornecida pelo paciente. Se o exacto remédio homeopatico for administrado os resultados serão completamente assombrosos. Isto pode ser ilustrado com o seguinte caso: Uma mulher nos seus cinquenta anos teve dores severas nas juntas ou articulações dos joelhos. O seu Raio X mostrava que ela tinha mudanças artriticas recentes. A dor era sob a forma de choques e aparecia cada vez que ela tinha que fazer o trabalho da casa. Quando se sentia incapaz de fazer os seus deveres familiares ela tinha acessos de choro e se culpava ou censurava a ela própria. Ela tinha um sentimento constante desde que se casou, que devido a ser uma pessoa com pouca instrução e educação escolar, ela não podia contribuir para ajudar financeiramente o seu marido e desta maneira ele era infeliz com ela. Ela culpava-se constantemente pelos seus problemas e sentia que o marido teria sido mais feliz se tivesse casado com outra pessoa mais instruida que ela. Sempre que seu marido e filhos se encontravam fora de casa ela chorava devido a estes pensamentos. Ela seria incapaz de partilhar estes sentimentos com qualquer pessoa mantendo tudo isto como que engarrafado dentro dela. Ela também sonhava frequentemente que a sua mãe se encontrava em muito más condições de saúde e ela se culpava de que negligenciava os seus deveres de filha e não fazia nada para ajudar sua mãe. Houve um incidente durante a sua infancia que a marcou muito profundamente e que ela narrou muito relutantemente: Uma vez seu irmão apanhou-a a brincar com um amigo e ele avisou-a para que ela se fosse embora. Ele levou-a para casa e puniu-a chicoteando-a e acoitando-a fortemente. Ela então sentiu que tinha feito algo muito mau e sentiu-se culpada da sua acção. Desde então ela obedecia em tudo que lhe diziam para fazer. Durante toda a sua vida ela teve a sensação que tinha feito algo muito errado e desta forma ela continuadamente se censurava e insultava a si própria. Este acontecimento afectou enormemente o seu relacionamento com o seu marido; em lugar de conversar e comunicar com ele, ela continuou sempre a culpar-se e a manter os seus sentimentos engarrafados dentro dela. Durante a entrevista ela também mencionou que era completamente impossivel para ela dormir de costas, ela teria sempre que respirar muito profundamente. Ela teve sempre uma atração para doces e frutos azedos. O remédio homeopático “Ignatia” encaixa-se perfeitamente dentro da descrição desta mulher. Três semanas após ter iniciado o tratamento, as suas dores nos joelhos melhoraram cerca de 50%. Ela sentiu como que um sentimento de paz e calma dentro dela, a qual ela não experimentava havia muitos anos. Uma vez o seu marido disse qualquer coisa para ela que a fez chorar, ela parou de chorar pouco tempo depois e afirmou-nos que pela primeira vez na sua vida de casada ela sentiu que a culpa não era nem dela nem dele, mas que eles eram pessoas diferentes e os dois podiam estar igualmente certos. A partir dessa data este tipo de sentimento fê-la sentir muito mais tranquila e livre de qualquer sentimento de culpa.